quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Historiografia Argentina e Brasileira I

INTRODUÇÃO

Tornou-se freqüente atualmente obras que buscam analisar a historiografia. No Brasil, os primeiros trabalhos dedicados à análise da teoria e método da disciplina 'História' foram feitos pelo historiador José Honório Rodrigues. Suas análises da historiografia brasileira têm início no final dos anos 40. Segundo Francisco Iglésias:

É exatamente nesse ano de 1949 que começa a produção de J. Honório, com vista à história como ciência e analisando em conjunto a teoria da História do Brasil em edições posteriores o livro seria ampliado e melhorado, embora se mantendo as linhas gerais. (2000, p. 26.)

Devido ao conjunto de sua obra, José Honório Rodrigues é considerado o grande precursor da análise da teoria e dos métodos em História no Brasil.

Outro autor que se preocupou com esse tipo de análise foi o historiador José Roberto do Amaral Lapa, porém sua preocupação com os Estudos Históricos foi bem mais longe, além da historiografia brasileira preocupou-se em analisar historiografia produzida na América Latina. Em um trabalho publicado na Revista História v.1 (1982) ele demonstra os primeiros resultados de uma pesquisa a respeito da historiografia na América Latina, levantando a problemática de questões relacionadas as técnicas, métodos, temas, ensino, pesquisa e o comportamento social dos historiadores latino-americano. Também comenta sobre o ingresso dos Estudos Históricos na Universidade latina – americana ressaltando que em apenas dois países deram-se no século XIX. No Chile em 1842 e na Argentina em 1891 quando se criou a Faculdade de Filosofia e Letras na Universidade de Buenos Aires.

Lapa definirá a historiografia como sendo a “consciência crítica” do conhecimento histórico e de seu agente o historiador. Considera que a produção latino-americana do conhecimento científico é marcada pela passiva importação de modelos, formulas, procedimentos e soluções e afirma:

A partir dessa importação, que não resulta necessária mente mal, mas pode e deve ser melhor operacionada, produz-se no subconsciente um conjunto de idéias e ações que na verdade foram incapazes até hoje de dar uma fisionomia própria e completa ao conhecimento histórico, definida pela sua capacidade de corresponder à realidade que é objeto desse estudo. Lapa (p.9 1982)

Usando como modelo de análise o estudo do professor Lapa, buscaremos no presente trabalho verificar as tendências da historiografia na Argentina e no Brasil, principalmente nos anos que vão de 1960 ao final dos anos de 1970, é claro, podendo regredir e avançar durante a nossa análise, dando assim um pequeno quadro das influências que predominaram nos Estudos Históricos destes dois países da América do Sul. Usando para nossa análise obras referentes ao tema. Não procuraremos aqui fazer uma análise comparada dos dois países em questão, mais sim apontar as principais influências que marcaram a historiografia, tanto da Argentina como do Brasil durante os anos de 1960 e 1970.

Contexto do Período.

No século XX numerosos conflitos abalaram a América Latina. Ela passou a conviver também com a intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos dos países da região. Longe de conquistar estabilidade social e política, os países latino-americanos acabaram sendo palcos de ditaduras longas e violentas.

Os anos de 1960 e 1970 foram um divisor de águas da História Ocidental, neste período o ocidente conheceu varias novidades tanto no plano Político, Econômico, Cultural e Científico.

“A novidade dessas transformações está tanto em suas extraordinária rapidez quanto em sua universalidade. Claro, as partes desenvolvidas do mundo, isto é, para fins práticos, as partes centrais e Ocidentais da Europa e da América do Norte, além de uma faixa de ricos e cosmopolitas em toda parte, há muito viviam num mundo de constante mudança, transformações e inovações culturais”.

Nos países da América Latina não foi diferente, os países do dito “terceiro mundo” passaram por ditaduras militares nos quais a liberdade muitas vezes foi privada. No Brasil, principalmente nos anos duros do regime militar, iniciado em 1964 e que atingia, nos finais dos anos 60 e inicio dos 70 (entre 1968 e 1974, mas precisamente) a sua forma mais excludente e repressiva, particularmente no que tange aos intelectuais, especificamente naqueles acantonados na área das ciências humanas e sociais. “Falar das obras históricas era estabelecer um diálogo surdo com o presente, muitas vezes camuflado para evitar as retaliações mais severas, que iam da exclusão da vida acadêmica, ao exílio e às prisões”. (J.J.ARRUDA,1999, p.22).